quarta-feira, 8 de setembro de 2010

‘Homo urbanus periféricus’



Há uma nova espécie de mundividência para a qual a sociedade, as organizações e os poderes (políticos, sociais, económicos, religiosos) ainda não despertaram devidamente. Falo do ‘homo urbanus periféricus’, essa amálgama de homens e mulheres que se juntaram ‘à volta’ dos grandes centros urbanos e cuja identidade, ou falta dela, merece atenção especial.
Outrora, a periferia da cidade do Funchal começava no Ribeiro Seco, no Torreão, na Nazaré, no Chão da Loba. Santo António era ‘campo’, a Ajuda bananeiras, o Caminho do Comboio a saída da cidade.
Hoje, dir-se-ia que a periferia do Funchal estende-se desde a Ponte dos Frades, Carmo e Rancho (Câmara de Lobos) até à Tendeira e Camacha (Santa Cruz). O Caniço e as Eiras são autênticos dormitórios. E só agora o poder económico começa a despertar para estes centros periféricos onde não havia farmácias, caixas multibanco, creches, centro de dia e lares de idosos, enfim, um sem número de serviços utilitários para quem só desfruta da sua casa de manhã e à noite.
A única instituição que parece ter acompanhado este fenómeno é a Igreja Católica que, também graças ao apoio público, tem construído novos templos nestes novos centros periféricos. De resto, é ali que vive a maioria da população, dos eleitores que tanta falta fazem aos partidos políticos.
E o poder autárquico terá de apresentar um novo paradigma para esta nova realidade. O encorajamento do regresso habitacional ao centro da cidade é uma ‘aspirina’ só ao alcance de uma minoria, dos mais ricos. Sejamos realistas. Não é preciso ser bruxo nem perceber muito da lei da oferta e da procura para entender que as soluções têm de ir ao encontro das populações e não ao contrário.
Ignorar esta nova realidade sociológica, esta nova geografia humana é a ‘morte do artista’. O ‘coração’ deste novo ‘homo periféricus’ não se conquista com as fórmulas gastas de outrora. Para quê, por exemplo, construir um campo de futebol para uma população que passo dia fora do seu meio? O que essa população periférica desejaria era de um belo jardim para passear ao fim da noite e não apenas ‘blocos de cimento’, qual caos urbanístico a atrofiar a mente e o espírito de quem passou um dia a trabalhar e, à noite, precisaria de ‘arejar as vistas’ de outro modo.
É difícil criar identidade num grupo de gente que arribou num determinado sítio só porque os apartamentos são mais baratos. Mas essa gente merece atenção. E é bom que os novos governantes, os nossos partidos, os nossos autarcas estudem algo mais sobre este fenómeno.
Aqui fica a dica!

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