quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Bom Ano de 2010!

Pela Paz, pela Amizade, pela Esperança... um 2010 de Liberdade e Cidadania, com Sáude e Alegria!

domingo, 20 de dezembro de 2009

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Mais um artigo excelente de Mário Crespo

O palhaço - MÁRIO CRESPO (JN)
2009-12-14
O palhaço compra empresas de alta tecnologia em Puerto Rico por milhões, vende-as em Marrocos por uma caixa de robalos e fica com o troco. E diz que não fez nada. O palhaço compra acções não cotadas e num ano consegue que rendam 147,5 por cento. E acha bem.
O palhaço escuta as conversas dos outros e diz que está a ser escutado. O palhaço é um mentiroso. O palhaço quer sempre maiorias. Absolutas. O palhaço é absoluto. O palhaço é quem nos faz abster. Ou votar em branco. Ou escrever no boletim de voto que não gostamos de palhaços. O palhaço coloca notícias nos jornais. O palhaço torna-nos descrentes. Um palhaço é igual a outro palhaço. E a outro. E são iguais entre si. O palhaço mete medo. Porque está em todo o lado. E ataca sempre que pode. E ataca sempre que o mandam. Sempre às escondidas. Seja a dar pontapés nas costas de agricultores de milho transgénico seja a desviar as atenções para os ruídos de fundo. Seja a instaurar processos. Seja a arquivar processos. Porque o palhaço é só ruído de fundo. Pagam-lhe para ser isso com fundos públicos. E ele vende-se por isso. Por qualquer preço. O palhaço é cobarde. É um cobarde impiedoso. É sempre desalmado quando espuma ofensas ou quando tapa a cara e ataca agricultores. Depois diz que não fez nada. Ou pede desculpa. O palhaço não tem vergonha. O palhaço está em comissões que tiram conclusões. Depois diz que não concluiu. E esconde-se atrás dos outros vociferando insultos. O palhaço porta-se como um labrego no Parlamento, como um boçal nos conselhos de administração e é grosseiro nas entrevistas. O palhaço está nas escolas a ensinar palhaçadas. E nos tribunais. Também. O palhaço não tem género. Por isso, para ele, o género não conta. Tem o género que o mandam ter. Ou que lhe convém. Por isso pode casar com qualquer género. E fingir que tem género. Ou que não o tem. O palhaço faz mal orçamentos. E depois rectifica-os. E diz que não dá dinheiro para desvarios. E depois dá. Porque o mandaram dar. E o palhaço cumpre. E o palhaço nacionaliza bancos e fica com o dinheiro dos depositantes. Mas deixa depositantes na rua. Sem dinheiro. A fazerem figura de palhaços pobres. O palhaço rouba. Dinheiro público. E quando se vê que roubou, quer que se diga que não roubou. Quer que se finja que não se viu nada.
Depois diz que quem viu o insulta. Porque viu o que não devia ver.
O palhaço é ruído de fundo que há-de acabar como todo o mal. Mas antes ainda vai viabilizar orçamentos e centros comerciais em cima de reservas da natureza, ocupar bancos e construir comboios que ninguém quer. Vai destruir estádios que construiu e que afinal ninguém queria. E vai fazer muito barulho com as suas pandeiretas digitais saracoteando-se em palhaçadas por comissões parlamentares, comarcas, ordens, jornais, gabinetes e presidências, conselhos e igrejas, escolas e asilos, roubando e violando porque acha que o pode fazer. Porque acha que é regimental e normal agredir violar e roubar.
E com isto o palhaço tem vindo a crescer e a ocupar espaço e a perder cada vez mais vergonha. O palhaço é inimputável. Porque não lhe tem acontecido nada desde que conseguiu uma passagem administrativa ou aprendeu o inglês dos técnicos e se tornou político. Este é o país do palhaço. Nós é que estamos a mais. E continuaremos a mais enquanto o deixarmos cá estar. A escolha é simples.
Ou nós, ou o palhaço.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

A Virgem e o Vulcão

Conhecem a lenda da Virgem que era atirada à cratera do vulcão para que este não entrasse em erupção.
Pois bem, essa é a historia dos 79 milhões de endividamento autorizados pela Assembleia da República para a RAM.
A Virgem são os 79 milhões. O vulcão é Alberto João Jardim.
Mas, a todo o momento, outra Virgem se reclamará porque a lava consome Virgens a rodos. Agora são mais 34 milhões.
Achei grassa ao 'Action Man' e a 'Hello Kitty' invocada pelo deputado Carlos Pereira.
Mas parece-me que a situação configura mais um '007' ou um 'Rambo' que encontrou do lado de la um 'Van Dame' e um 'Exterminador'.
Não que isto me satisfaça enquanto Ilhéu mas limito-me a constatar um facto.
E quando se fala em milhões quão fácil é passar de um discurso trauliteiro para um Ghandi da resistência pacífica cuja arma deixa de ser o contencioso das autonomias para ser o 'dialogo'.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

O aviso da Catalunha!..

A independência da Catalunha em relação a Espanha foi defendida ontem por 94,71% dos eleitores que foram a referendo.
Os catalãs votaram em 166 municípios daquela Região espanhola cuja capital é Barcelona, numa consulta que não é vinculativa.
Estavam inscritos 700 mil eleitores mas só votaram 30%.
A cada um dos eleitores foi perguntado se “está de acordo que a nação catalã se converta num Estado de Direito independente, democrático e social integrado na União Europeia”.
O ‘sim’ obteve 94,71% dos votos e o ‘não’ 3,53%, tendo-se registado 1,76% de votos em branco e 0,34% de votos nulos.

Integração perfeita

Um caixote de lixo 'verde'. Ainda dizem que a Câmara do Funchal não tem preocupações ambientais?!. Este fica no miradouro Dona Guida.
Se a moda pega, há solução para tantos 'mamarrachos' da cidade. Basta 'envolvê-los' em trepadeiras e outras 'verduras'.

Poste ambientalmente integrado

É um poste de telecomunicações mas serve também de trepadeira. É um dois em um (poste e árvore). Que mais ecológico e ambientalmente integrado existe? Fica no sítio da Ladeira, em Machico.

Salto em passadeiras!!

Será um novo desporto (Salto em passadeiras)?. Esta fica na Rua Dr. Juvenal, no Funchal. Ou é para o peão não atravessar ou é para o carro enfaixar-se.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Dúvida?

Haverá motivo de contentamento por nos terem deixado ir à banca buscar 79 milhões?

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Paquetes a laser!

Questionou-se em Manchester e questionou-se recentemente em Barcelona. Em ambas as situações, Cristiano Ronaldo foi atingido por um feixe de laser.
Mas nós por cá também fomos importunados por um laser, ontem à noite, vindo de um paquete estacionado no porto do Funchal. E não foi a primeira vez. A cena repetiu-se a semana passada.
Se é de evitar um apontador/caneta de laser que usamos no 'PowerPoint', por maioria de razão se recomenda que evitemos este tipo de 'brincadeiras'. Sobretudo dirigido a pessoas.
Na década de 90, quando este tipo de 'brinquedo' surgiu, era comum verem-se discotecas no interior do país a usar de feixes de laser para chamar a atenção. Pensei que a 'moda' tivesse passado mas, pelos vistos, surgiu em força.
Face a isso, e para mão me chamarem de 'cota', recomendo alguma cautela. Não olhem directamente para os tais feixes (os olhos agradecem) e, uma vez no anfiteatro do Funchal, minimizem a incidência dos raios. A tarefa não é fácil para quem tem crianças e quer vê-las dormir sem serem importunadas.

sábado, 5 de dezembro de 2009

Certificados de qualidade!

Não censuro por censurar mas vejo algum provincianismo na forma como certas figuras públicas exibem os chamados 'certificados de qualidade'.
Parece que tais certificados são a panaceia para todos os males quando não passam de meras aspirinas.
A Qualidade é um bem em si mesmo, e há muito boa Qualidade por aí que não é certificado nem precisa de sê-lo. Tudo o mais é pretexto...

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Porquê vender e não doar?

O 'rico' Savoy colocou à venda o seu recheio. São quartos inteiros à venda a partir de hoje e até 12 de Dezembro.
Ninguém é obrigado a dar o que tem mas há tanta instituição social a carecer de mobiliário que os donos do Savoy poderiam, muito bem e sem qualquer rombo financeiro, doar este tipo de bens.
Fica a sugestão!

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

A minha terra em 1968

Foto do piloto Ernesto Neves a passar na Ribeira da Janela. Volta à Madeira em Automóvel de 1968.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

15 mil acessos ao 'madeira4ever'

Graças a si este blogue acaba de completar 15 mil acessos.
Continue a fazê-lo....

Memórias: O fundo do Funéu

Em pequeno ouvia recorrentemente a expressão "fundo do Funéu". Quem a usada dava-lhe um tom dramático como se tal local fosse penoso, uma espécie de inferno. Sei que se trata de um lugarejo na freguesia da Ribeira da Janela e, de facto, fica num sítio ermo e de difícil acesso.
Desconheço a origem do nome e não creio que ele tenha a ver com a definição que vem no Dicionário de português. Este diz que Funéu é um substantivo/nome masculino que se refere a um "cordão que passa por dentro de uma bainha, permitindo que esta se franza ou desfranza".
A decomposição da palavra que deriva do latim 'fune', "corda" + 'éu' aponta para aí mas tenho outra leitura/explicação para a origem do nome Funéu, da Ribeira da Janela. Não que nesta freguesia não se usem funéis (cordéis ou elásticos) dentro de bainhas de saias, cuecas e afins mas por outra razão.
Creio que se deve ir a outra raiz para explicar o lugar chamado Funéu. Talvez a 'Funel' (funéu), Funil (infundíbulo). É que o lugar em causa é afunilado. Um abismo.
Quando alguém dizia "fundo do Funéu" era ao abismo que se referia. Querendo com isso corporizar um lugar de onde é difícil sair. Mandar alguém para o "fundo do Funéu" era o mesmo que mandar para o inferno.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Memórias: Café de cevada e do "bom"

O café de cevada é um substituto muito popular do café tradicional. Na Madeira usa-se muito, algumas vezes misturado com café do "bom". Que o digam os clientes da 'Pretinha dos Cafés'.
Lembro-me quando era garoto e estudava no Funchal. Aos fins-de-semana, quando ia ao Porto Moniz o meu avó dava-me um dinheirinho (com alguns extras para comprar um bolo ou beber um copo de leite). A missão era, no fim-de-semana seguinte levar um saco de café de cevada misturado com café do "bom". Algumas vezes também me pedia que levasse uma caixa de bolachas 'quadradas' da fábrica 'Santo António'. No fim-de-semana seguinte... missão cumprida.
Dizem que o café de cevada é uma óptima alternativa e que cria menos dependência. O café de cevada é considerado mais saudável do que o tradicional por não conter cafeína e ainda oferecer todas as propriedades nutricionais e medicinais que o cereal contém.
Se hoje a cevada é conhecida pela maioria apenas como ingrediente principal no fabrico de cerveja, para os povos antigos ela tinha grande importância. Sem o saber, os antigos (populações rurais madeirenses) optavam pelo mais saudável.
A ingestão excessiva de café do "bom" pode causar problemas de comportamento, alterações cardíacas, câncer na bexiga e aumento do colesterol. A cafeína produz insónia e excitação nervosa. O café de cevada pode ser uma alternativa.
Os antigos sabiam que o café de cevada acalma os nervos e é um excelente fortificante para o cérebro. Se for misturado com leite ao pequeno almoço tanto melhor. Não é por acaso que nas prateleiras das tradicionais mercearias madeirenses existe esse objecto inconfundível que é o frasco de café 'Pensal'. E, para os mais dependentes, 'Mokambo' essa bebida à base de chicória, cevada e café. 'Bolero', 'Brasa' ou 'Tofina' para os mais requintados.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Parabéns à Associação..

No próximo domingo, a Associação Desportiva e Cultural da Ribeira da Janela (que ajudei a fundar) celebra o seu 10.º aniversário.
PARABÉNS!!

Memórias: Roçadeira e outras alfaias agrícolas

Numa mão uma vara ou uma forquilha para amainar o silvado e noutra a roçadeira. Era assim que o homem do campo (o que dá 'dias fora' e faz os trabalhos mais fragosos) enfrentava a árdua tarefa de limpar os terrenos invadidos por silvado e deixá-los prontos para o cultivo.
A roçadeira artesanal (espécie de vara comprida com uma podôa ou foice na ponta -hoje há roçadeiras mecânicas) era e é um instrumento essencial das alfaias agrícolas. Na Ribeira da Janela há um sítio que perpetua esse nome: Roçada.
As minhas memórias de infância estão povoadas de imagens de ruralidade. Mais nos outros do que em mim. De foices ao ombro, molhos de erva ou de couves às costas ou à cabeça (mulheres), de sacas de cernelha, de bordões ou forquilhas, de gigas, de espantalhos deixados no campo para as aves não comerem as sementes acabadas de atirar à terra, dos 'molhinhos' de cebolinho ou de 'coivinha' que seriam 'dispostos' na terra para virar cebolas.
Dos 'molhos' de rama das Contreiras que, algumas vezes comprados, prenchiam tornas e regos de batata doce, de laços de coelhos à entrada das tocas, da colheita de espadanas para, uma vez semi-secas, virarem amarras para 'abaixar' a vinha, das enxertias e da construção de 'amparos' e de paredes de empreitada, das tosquias no Fanal ou no Curral Falso.
Das varas de lagar e dos fusos arrancados à serra, das caixas de verdelho que o Estaleiro produziu e que, a custo, passava por trilhos e veredas inimagináveis, do adubo e dos 'ingassos' (parra que restava depois de feito o vinho) levados às costas ou em cestos para adubar a terra, das 'ameixas' para preparar as pipas e cuja combustão nos fazia tossir....
Enfim... das cunhas de rachar lenha ou de outras mais maneiras para 'prender' cabos de ferramentas agrícolas (enxadas, podôas, foice, machados). Dos podões e da ráfia. Dos foles ou enxofradeiras (às vezes saquinhos de enxofre) para deitar nos rebentos da vinha. Enxofre que nos fazia verter lágrimas, da palha lançada ao rego, da debulha nas eiras...

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Lobby pelos ilhéus

Este blogue faz lobby para que os ilhéus da Ribeira da Janela sejam considerados uma das '7 Maravilhas Naturais de Portugal'. O concurso foi lançado recentemente em antecipação às 'Sete Novas Maravilhas da Natureza', a nível mundial, que se irá realizar em 2011.
Os ilhéus da Ribeira da Janela constam da lista provisória de nomeados. O Fanal e o Lombo dos Cedros também constam na lista provisória. A 7 de Março de 2010, serão conhecidas os 21 finalistas. Oxalá tenham sucesso!
Poderá conhecer os pré-candidatos em www.7maravilhas.sapo.pt.
Os Ilhéus da Ruama (da Rama), Ilhéu Alto, Ilhéuzinho, 'Baixinha' e Baixa Alagada, são mais conhecidos como os Ilhéus da Ribeira da Janela. Destes ilhéus, o mais famoso, tanto pela sua morfologia como pela sua história, é o Ilhéu Alto, também conhecido como Ilhéu Comprido, localizando entres os outros dois ilhéus, com cerca de 40 metros de altura tendo perto do cimo uma pequena abertura, parecendo uma janela. Foi a partir desta particularidade que foi baptizada a freguesia e a ribeira como Ribeira da Janela.
O Ilhéu da Rama ou da Ruama, fica a cerca de 200 metros da costa, sendo o maior e aquele que apresenta alguma vegetação, quanto ao Ilhéuzinho, como o próprio nome indica é o mais pequeno, quase parecendo um rochedo, fica mesmo junto á costa.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Memórias: Lendas e supertições (ditos populares) II

Já ouviram falar da 'cruz de cabelo' e do seu poder de afastar o demónio. Pois é, um homem com uma cruz de cabelo ao peito é abençoado. Pelo menos é nisso que a crendice popular acredita. Também existe a crença de que o sétimo filho de um casal será um lobisomem e que a sétima filha será bruxa.
O mês de Agosto é popularmente conhecido como o mês do desgosto (não se deve casar). Se as orelhas ficarem quentes de repente, é porque alguém está a falar mal de nós. Vestir, sem querer, uma peça de roupa ao avesso, não é bom sinal. No Ano Novo, usar roupa interior azul dá boa sorte. bater 3 vezes na madeira, afasta maus agouros ou maus espíritos.
No casamento, se qualquer dos nubentes ao colocar a aliança no dedo do outro, a deixar cair, isso é sinal de infelicidade. Não se deve brincar com a própria sombra porque pode trazer doença. Não se deve contar as estrelas porque faz nascer verrugas. Não cortar as unhas à sexta-feira, porque nesse dia está o diabo a cortá-las. Entrudo borralheiro, Páscoa soalheira. Ter comichão na palma da mão esquerda significa que tem de pagar, se for na mão direita tem a receber. Cortar o cabelo a uma criança tira-lhe a força.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Patri quê?!

Estou preocupado e não é para menos. Preocupado com as gerações vindouras e com o péssimo exemplo que lhe estamos a dar.
Então não é que até o nosso património estamos a hipotecar (não é penhorar como diz o CDS)!.
Tudo começou a 12 de Janeiro de 2007 com o Decreto Legislativo Regional nº 7/2007/M de 12-01-2007 que criou a PATRIRAM - Titularidade e Gestão de Património Público Regional, S. A., sociedade anónima de capitais exclusivamente públicos.
Daí para cá tem sido um lufa-lufa de engenharias financeiras para financiar este e o outro mundo à custa de activos imobiliários que são de todos nós. Não significa que os percamos mas não há dúvidas que alguém está a servir-se deles como nunca.
E a que título.?!... para pedir dinheiro à banca... para nos endividarmos ainda mais.
"A rentabilização daquele património passa não só pelas tradicionais formas de alienação ou oneração, como, igualmente, pela tomada de medidas inovadoras que visem valorizar todo o acervo patrimonial imobiliário", diz ironicamente o DLR.
O prazo de duração da concessão dos imóveis à PATRIRAM é de 50 anos, renováveis nos termos definidos no respectivo contrato.
E mais... uma coisa que acho perigossíssimo: "O Governo Regional, por deliberação do Conselho do Governo, ou por actos do Secretário Regional do Plano e Finanças, após delegação de competências, pode determinar a transmissão de quaisquer bens ou direitos do domínio privado da Região Autónoma da Madeira para a PATRIRAM".
Não ficamos por aqui... "No caso de a sociedade se dissolver, nos termos legais e previstos nos Estatutos, a Região Autónoma da Madeira adquirirá a propriedade dos bens e direitos da PATRIRAM necessários à manutenção das prestações de serviço público, contra o pagamento de justo valor determinado por avaliação independente".
Por outro lado, parece-me risível a faculdade conferida ao conselho de administração da PATRIRAM, com sede no edifício do Governo, na Avenida Zarco, de "Negociar com o Governo Regional o contrato de concessão com base no qual a sociedade exerce a sua actividade". Como é que se negoceia? É o mesmo que o patrão reclamar aumentos de salários... ao patrão.
Também compete ao conselho de administração "Deliberar a emissão de obrigações, sem prejuízo de à assembleia geral caber idêntico poder". Até onde vai esta faculdade? "Podem ainda ser emitidas obrigações convertíveis em acções de categorias especiais e obrigações com direito de subscrição de acções de categorias especiais, desde que os seus adquirentes sejam entidades públicas regionais". Não quero crer que se entrem em jogos especulativos!!!
E para o futuro? "No futuro, poderão ser titulares de acções da PATRIRAM outras entidades públicas regionais, mas não só a Região Autónoma da Madeira deverá manter a maioria do capital, como na alienação de acções por outros accionistas terá sempre direito de preferência".
Por aqui ficamos... leiam, com olhos de ver, o relatório do Tribunal de Contas

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Memórias: Charadas populares

A pressa é inimiga da perfeição. Amigos amigos negócios à parte.Água mole em pedra dura, tanto dá até que fura. A ocasião faz o ladrão. Amigos dos meus amigos, meus amigos são. Antes só do que mal acompanhado. A pobre não prometas e a rico não devas. A mulher e a sardinha, querem-se da mais pequenina. A boda e a baptizado, não vás sem ser convidado.
A galinha do vizinho é sempre melhor que a minha. A preguiça é mãe de todos os vícios. A palavra é de prata e o silêncio é de ouro. A palavras (ocasloucas) orelhas moucas. A pensar morreu um burro. Ao rico mil amigos se deparam, ao pobre seus irmãos o desamparam. Até ao lavar dos cestos é vindima.
Boi velho gosta de erva tenra. Boa romaria faz, quem em casa fica em paz. Burro velho não aprende línguas. Chuva de São João, tira vinho e não dá pão. Cada ovelha com sua parelha. Casa de ferreiro, espeto de pau. Cão que ladra não morde. Com vinagre não se apanham moscas. Candeia que vai à frente alumia duas vezes. Cada um sabe de si e Deus sabe de todos. Casa onde entra o sol não entra o médico. Cautela e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém.
Cesteiro que faz um cesto faz um cento. Com papas e bolos se enganam os tolos. De noite todos os gatos são pardos. De Espanha nem bom vento nem bom casamento. De pequenino se torce o pepino. De grão a grão enche a galinha o papo. De médico e de louco, todos temos um pouco. Diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és. Deitar cedo e cedo erguer, dá saúde e faz crescer. Deus ajuda, quem cedo madruga.
Entre marido e mulher, não se mete a colher. Em casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão. Em tempo de guerra não se limpam armas. Gaivotas em terra, tempestade no mar. Gato escaldado de água fria tem medo. Junta-te aos bons, serás como eles, junta-te aos maus, serás pior do que eles. Ladrão que rouba a ladrão, tem cem anos de perdão. Mais vale um pássaro na mão, do que dois a voar. Mal por mal, antes na cadeia do que no hospital.
Manda quem pode, obedece quem deve. Mãos frias, coração quente. Mais vale cair em graça do que ser engraçado. Mais depressa se apanha um mentiroso que um coxo. Não há romaria sem cambado. Muito riso pouco siso. Não há mal que sempre dure, nem bem que não se acabe. Não há bela sem senão. Não há fome que não dê em fartura. Não há duas sem três. No melhor pano cai a nódoa. No aperto e no perigo se conhece o amigo. Não há sábado sem sol, domingo sem missa nem segunda sem preguiça.
O seguro morreu de velho. O futuro a Deus pertence. Deus escreve direito por linhas tortas. O homem põe e Deus dispõe. O que não tem remédio remediado está. O seu a seu dono. Os amigos são para as ocasiões. Os homens não se medem aos palmos. Pau que nasce torto jamais se endireita. Para baixo todos os santos ajudam. Para grandes males, grandes remédios. Pela boca morre o peixe.
Presunção e água benta, cada qual toma a que quer. Quando a esmola é grande o santo desconfia. Quem vai à guerra dá e leva. Quem parte e reparte e não fica com a melhor parte, ou é tolo ou não tem arte. Quem sai aos seus não degenera. Quem vai ao mar perde o lugar e quem vai ao vento perde o assento. Quem com ferros mata, com ferros morre. Quem corre por gosto não cansa. Quem muito fala pouco acerta. Quem dá e tira sai uma tira. Quem diz as verdades, perde as amizades. Quem se mete em atalhos não se livra de trabalhos.
Quando um burro fala, o outro abaixa a orelha. Quanto mais te agachas, mais te põem o pé em cima. Quem não chora não mama. Quem desdenha quer comprar. Quem canta seus males espanta. Quem feio ama, bonito lhe parece. Quanto mais depressa mais devagar. Quem boa cama fizer nela se deita. Quem brinca com o fogo queima-se. Quem muito escolhe pouco acerta. Quem não tem dinheiro não tem vícios. Quem não trabuca não manduca.
Quem paga adiantado é mal servido. Quem tem capa sempre escapa. Quem é vivo sempre aparece. Santos da casa não fazem milagres. São mais as vozes que as nozes. Tristezas não pagam dívidas. Uma mão lava a outra, e as duas lavam a cara. Vozes de burro não chegam aos céus. Zangam-se as comadres, descobrem-se as verdades.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Memórias: Lendas e superstições (ditos populares)

Fazem parte do nosso imaginário colectivo. Algumas têm variantes/cambiantes, consoante a zona geográfica ou a situação/lição que se pretende transmitir.Da minha memória de infância, pelo que ouvia na Ribeira da Janela, retive algumas histórias que agora partilho convosco:
Cair azeite (na toalha ou no chão) ou ovos é sinal de azar. Derramar vinho ou açúcar dá sorte. Quem come pata ou pele de galinha fica bilhardeiro. Mexer o chá, na xícara, da direita para a esquerda, pode provocar brigas. Se duas mulheres servirem o chá do mesmo bule, uma delas terá um filho dentro de um ano. Um ovo de galinha muito pequeno é sinal de morte próxima.
Recolher os ovos de uma galinha e levá-los para dentro de casa, após o anoitecer, acarretará uma desgraça. Um ovo com duas gemas pressagia a morte de alguém muito próximo. Não se deve atirar ao fogo a casca de um ovo para que a galinha não deixe de pôr ovos. Não é bom augúrio uma galinha chocar um número ímpar de ovos, pois provavelmente gorarão.
O desperdício de pão é uma prática de mau agouro porque indica que quem o fizer passará fome. Comer laranja de manhã é ouro, de tarde é prata e à noite mata. Costurar roupa no corpo é de mau agouro porque só se costura a mortalha em defunto. Dá azar dormir com meias. Não se deve abrir guarda chuva dentro de casa. Dar um nó no lenço que se usa é excelente protecção contra o mal (havia quem usasse o dinheiro no interior do nó).
Não se deve tirar as teias de aranha de uma casa, pois tira-se a sorte também. Deve-se entrar numa casa com o pé direito para ter felicidade. No sábado de Aleluia é bom buscar água benta na
igreja, espalhá-la nos quatro cantos da casa para sair o azar da residência. É de mau agouro dormir com os pés voltados para a porta de entrada do quarto. Ninguém deve deitar-se sobre uma mesa, atrai a morte.
A mulher grávida não deve usar chaves, medalhas, colares no pescoço/colo, pois a criança sairá com marcas na pele. O umbigo do recém nascido deve ser queimado ou enterrado. O nome de um filho só deve ser escolhido após o nascimento. Comer castanhas cruas faz ganhar piolhos. Pisar cocó é sinal de dinheiro. Partir um espelho ou matar um gato dá 7 anos de azar. Passar por cima de uma criança faz com que ela não cresça mais, para crescer é preciso que aquela que passou por cima o faça outra vez, mas em sentido contrário. Mexer com lume faz xixi na cama.
Pedir três desejos quando se vê uma estrela cadente. Sol e chuva casamento de viúva, chuva e sol casamento de espanhol. Cruzar os dedos atrás das costas quando se diz uma mentira. Usar uma aliança para tirar o tresorelho. Passar uma cagarra ou uma coruja sobre uma casa à noite e a piar é presságio de morte nessa casa. Na quinta-feira santa não se deve lavar nem corar a roupa, porque pode aparecer no panal o retrato de Cristo feito em sangue.
O noivo nunca deve ver a noiva com o vestido de cerimónia antes do dia do casamento. Os noivos são felizes, se na boda chover. Não se deve varrer os sapatos ou pés dos jovens solteiros, pois é sinal que não casarão. Também não se deve varrer a casados porque podem ficar viúvos. Quando uma criança ri enquanto dorme é sinal que está a falar com os anjos. Quando uma criança definha e não come, diz-se que está aguada.
O sarampo ou saranpelo cura-se envolvendo a criança em roupas vermelhas e colocando no quarto tecidos e roupas da mesma cor. A papeira cura-se com uma fita envolta no queixo e cabeça. Uma mulher grávida não deve entrar no cemitério. Se não for satisfeito um desejo a uma mulher grávida o filho nasce com a boca aberta e o cabelo espetado.
As grávidas não devem pegar nos gatos porque as crianças nascerão com asma. Se a barriga da mulher ficar empinada é sinal que traz no ventre um rapaz; se crescer alargando as ancas, é rapariga. Para que os dentes cresçam bem, atiram-se quando de arrancam os 'de leite' (antes era com uma linha e uma porta) para a cinza ou para o telhado, dizendo: 'Dente dentinho, dente dentão vai-te para que nasça outro são'.
Desaparecem os soluços se se pegar um grande susto. Comer muito queijo tira a memória. Quando o pão cai no chão, deve ser beijado por quem o deixou cair, porque está lá Nosso Senhor (quando uma hóstia caía ao chão, antes havia um cerimonial para a recolher). Quando as andorinhas andam rasteiras é sinal de chuva. O número 3 dá sorte, três foi a conta que Deus fez.
Quem varre a casa à noite e deita fora o lixo, deita fora a fortuna. Achar um trevo de 4 folhas é sinal de sorte. A sementeira das batatas, a matança do porco e o corte das madeiras devem fazer-se no quarto-crescente da Lua. Duas pessoas que abrem a boca ao mesmo tempo hão-de ser compadres ou comadres. Não se deve desejar mal a ninguém, pois o próprio vem a caminho.
Quando duas pessoas bebem do mesmo copo, a que bebe em último lugar fica a saber os segredos da outra. Quem passar por debaixo do arco-íris muda de sexo. Depois da meia-noite é perigoso passar por um cruzamento: é lugar de encontro de bruxas e lobisomens (dizem que elas se encontram no chão do Paul da Serra). Quando se mata uma galinha e ela custa a morrer, é porque alguém está com pena dela (só quem não viu como se desnucam as aves!). Cura-se a dor de ouvidos com leite quente do peito da mulher que amamenta.
Finalmente, deixo aqui a explicação popular para as 'manchas' que, da terra, se vêem na Lua: 'Uma vez andava um homem a arrancar silvas ao Domingo. Veio Deus e disse-lhe que não arrancasse as silvas. O homem respondeu que ninguém o via fazer aquele trabalho. Deus disse: "pois deixa estar que te vou por num sítio onde toda a gente te há-de ver". E colocou o homem na Lua com o molho de silvas às costas. São dele as 'manchas' que se vêem na Lua'.

Dá que pensar...

NOS PRÓXIMOS 60 MINUTOS, e de acordo com o ritmo das alterações ocorridas nos últimos 12 meses:
... vão-se constituir 16 novas empresas
... serão dissolvidas 8 empresas
... 6 empresas irão alterar o seu capital social
... 2 empresas serão decretadas insolventes
... serão movidas 24 acções judiciais

Quo Vadis Economia?!

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Memórias: Fadário

Fadário é um substantivo masculino que significa fado, destino, sorte. Vida penosa; vida trabalhosa; desgostos, pesares.
O fadário é o caminho, o destino talhado por um poder divino, sobrenatural! Quiçá o mais paradoxal dos caminhos!
A palavra deriva do latim (fatu+ário). Significa aquele que acredita no fado; fatalista. São sinónimos de fadário destino, fado, lida contínua, sorte.
Num dos dicionários que consultei aparece também a palavra Fado e outros termos cuja formação deriva da raiz latina 'Fatum', tais como Fadário, Fadas, Fatal e Fatídico.
A palavra fatal vem explicada como cousa que sucede como por obra do fado sendo que tudo o que sucede é efeito da vontade de Deus; desgraçado; sucedido sem nossa culpa; grande, notável, famoso. Acresce que o termo 'fatalidade' é deste que deriva.
O conceito de fatídico é assim explicado: adivinhador ou declarador de cousas futuras. Daí que 'Fadas', segundo a superstição dos antigos eram as que se achavam aos nascimentos dos grandes e lhes prognosticavam a sua boa ou má fortuna.
Chamavam-se também Fadas às três Parcas que segundo a ficção dos Poetas fiam as maçarocas da vida.
Fadas se diziam também entre o vulgo as mulheres célebres na Astrologia judiciária. Daqui Fadado e Fadar.
Segundo Platão, Fado não é outra coisa que a palavra e vontade de Deus. E segundo o grande Santo Agostinho e São Thomaz, Fado é a disposição e Providência divina que por suas ordens antevê os sucessos, conservando nos actos humanos o livre alvedrio que contribui para eles.
Pois a palavra fadário é uma das que me vem à memória, porque proferida vezes sem conta pela minha saudosa avó. O teu fadário terminou, o meu (ainda) na terra vagueia.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Memórias: O palheiro

A Ribeira da Janela é uma das freguesias da Madeira onde o palheiro madeirense é mais genuíno. O maneio e a forma de estabulação dos bovinos tem, aqui, singularidades.
Com efeito, os tradicionais palheiros pouco evoluíram desde os primórdios da colonização da ilha. Na Ribeira da Janela é raro ver-se um palheiro coberto de zinco como noutras paragens. Aqui, os mais genuínos têm rés-do-chão e sobrado. A cobertura é quase sempre de telha. As portas são exíguas (raras são as de duas meias portas).
O sobrado tem piso de tábuas de madeira rudimentares e uma abertura junto à manjedoura para deitar erva ao gado. O soalho deixa aberturas entre as tábuas para permitir a ventilação e no topo do telhado há quase sempre uma abertura para sair o ar. Até havia quem dormisse no 'quentinho' do sobrado (calor libertado, desde os rés-do-chão, pelo animal) em vez de dormir em casa. O sobrado é para guardar a feiteira e outras alfaias agrícolas (cordas, enxadas, etc.).
Existiam também alguns estábulos em furnas cavadas na rocha, mesmo à beira de precipícios e veredas. Quando o gado tinha de sair, para cópula com o garanhão ou mesmo definitivamente para abate, havia casos em que o animal e as pessoas que o seguravam abicavam-se.
Os palheiros hermeticamente fechados, escuros e acanhados existem. As aberturas (janelas) são mínimas até para evitar a entrada d indesejados mosquitos. Mas há outros 'modernos' onde a pedra solta das paredes deu lugar aos blocos. A
mangedoura tem um ou dois degraus para que o animal chegue à forragem, sobretudo quando o palheiro é limpo e o adubo retirado. Estrume, rico em azoto e potássio, que fica no logradouro até ser levado em sacas ou aos molhos para fertilizar a terra.
Nos palheiros tradicionais não há bebedouro. A água é dada ao animal manualmente, pelo produtor, numa vasilha ou balde, uma ou duas vezes ao dia, nas vezes em que, pacientemente, o dono vai ao palheiro dar de comer ao gado. Uma rotina que a malta nova já não tem paciência para cumprir.
O palheiro da Ribeira da Janela é único. Efectivamente, segundo Daniel Bravo, um inquérito levado a cabo no longínquo ano de 1948 revelou que existiam 19 formas diferentes de albergar o gado. Uns mais confortáveis do que outros para a ordenha das vacas, a gestação, a alimentação, a cama do gado (adubo), etc.
Porque, nalguns casos, os palheiros são de pequena dimensão, o agricultor tem a percepção empírica de que o gado precisa de espairecer. Daí que seja recorrente, de quando em vez, trazer o gado para fora do palheiro para pastar nas redondezas, num misto de estabulação/pastagem.
Os palheiros servem também para albergar o gado da serra, na temporada mais rigorosa de Inverno. As rezes mais pequenas encontram nele o conforto antes de rumar à serra.
Conclusão: Urge preservar os palheiros em nome do seu valor cultural, sentimental e paisagístico. Ainda que para outras funcionalidades.

nota: Para elaborara este 'post' socorri-me de Daniel Bravo da Mata (médico veterinário da ex-Direcção Regional de Pecuária) que chegou a propor um modelo arquitectónico de palheiro madeirense que proporcionasse mais conforto aos animais.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Relativizar Saramago

"O Deus da Bíblia não é de fiar". "A Bíblia é manual de maus costumes". "Não existe nada de divino na Bíblia, nem no Corão". "A Bíblia é um desastre, cheia de maus conselhos, como incestos e matanças".
Estas expressões são atribuídas aos prémio Nobel português, José Saramago. O mesmo que diz que a Bíblia "tem coisas admiráveis do ponto de vista literário" e "muita coisa que vale a pena ler".
Ora, é nesta aparente contradição, diria encantamento de Saramago pela Bíblia, que deve ser vista a questão. Não com pedras prontas a crucificá-lo nem com fundamentalismos balofos.
A Bíblia vale o que vale. Para os Católicos vale muito. Cada um é livre de a interpretar, de a seguir ou de a criticar, do mesmo modo que Saramago também é livre de o fazer.
E não esqueçamos que é preciso dar a estas polémicas do desconto dos golpes de publicidade para vender livros.
Digo isto com a admiração e a humildade de quem já entrevistou Saramago, em Lanzarote, na ressaca do anúncio da atribuição do Nobel da literatura, em 1998.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Memórias: Cessões

Creio que é assim que se escreve: Cessões. A empresa que ainda os faz (Fábrica de Bolachas 'Saborável', na Rua dos Ferreiros, assim o escreve).
Ora, os cessões, que agora se vendem em grupos de cinco, eram, há uns anos, o biscoito favorito dos pobres. Não havia mercearia, no Campo, que se prezasse que não os tivesse expostos na prateleira. E, à noite, a pequenada adorava quando o pai chegava a casa com eles.
Quantas vezes vi pequenos, nas imediações das mercearias, a beber uma laranjada e a comer um cessão.
Os cessões são biscoitos de forma ovalada (muito parecidos com os da foto), mais ou menos da dimensão de uma mão aberta, que, na sua confecção, levam açúcar, farinha, margarina, mel de cana e fermento.
Como são secos (tipo bolachas), têm a particularidade de aguentar muito tempo antes de ser consumidos sem que percam qualidades.

Não idolatrar imagens!

A imagem peregrina de Fátima está na Madeira. A Diocese empenhou-se nesta missão. Mas é preciso relativizar as coisas... ou melhor, não esquecer o essencial. E o essencial é a mensagem e não a imagem se bem que esta possa levar àquela.
Na Bíblia Católica, o Livro da Sabedoria condena como nenhum outro a idolatria (Sb 13-15). Na Sagrada Escritura há outras passagens que condenam a confecção de imagens como por exemplo: Lv 26,1; Dt 7,25; Sl 97,7 e etc. Mas também há outras passagens que defendem a sua confecção como: Ex 25,17-22; 37,7-9; 41,18; Nm 21,8-9; 1Rs 6,23-29.32; 7,26-29.36; 8,7; 1Cr 28,18-19; 2Cr 3,7,10-14; 5,8; 1Sm 4,4 e etc.
Será, então, que a Igreja Católica ensina a adoração de imagens?
Não quero acreditar que sim. Quero crer que Deus condena a idolatria e não a confecção de imagens. Quando o objectivo da imagem é representar (e não mais do que isso), estamos de acordo.
Quando pretende ser um ídolo que ofusca a adoração devida a Deus (e a ele somente), a imagem é abominável.Porém quando é utilizada ao serviço de Deus, no auxílio à adoração a Deus, ela é uma bênção.
Faço votos para que esta seja a missão da Imagem peregrina na Madeira, até Maio de 2010.
Tudo o mais é 'show off'...

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Memórias: Rosquilhas, cuscuz, torresmos e açorda

Da farinha de trigo nasciam as rosquilhas. As caseiras. Tendidas por mãos hábeis como as da minha avó ou por mãos de menino inexperiente como as minhas. Lá em casa, sobretudo pelo Natal, na amassadura havia sempre um tabuleiro de brindeiros e de rosquilhas tendidas pelos mais pequenos. A imaginação era o limite. Havia rosquilhas de formas bizarras, outras em forma de coração, outras de 'boneca'. O resultado era o mesmo: acabavam sempre por ser comidas.
Também povoa a minha memória de infância a preparação do cuscuz caseiro. Essas minúsculas bolinhas disformes de massa feitas à base de sêmola de trigo que acompanhava a Ceia de Natal. O cuscuz, hoje produzido de forma industrial, era alimento dos pobres. E que bom era à mesa em substituição do arroz que hoje domina.
Outra delícia culinária eram os torresmos. Não os secos que hoje se compram aos pacotes de supermercado mas os genuínos. Feitos de pele de porco com gordura e, aqui e ali, com pedacinhos de carne febra. Cortados em pequenos pedaços e fritos eram de morrer. Secos e estaladiços não eram de desperdiçar. Falo dos torresmos genuínos (o que restava da banha de porco).
Finalmente, lembro-me como hoje da açorda. Não da alentejana mas da madeirense. Do norte da Madeira. Era uma açorda simples como simples e pobres eram as mundividências. Levava água, segurelha, azeite (ou banha, ou margarina) e um ovo por cada cabeça da família. Depois era só deitar em sopas de pão duro ou semilhas cozidas que tinham ficado da véspera.

sábado, 10 de outubro de 2009

Portugal 'quase" lá...

Foi preciso ir à 'Luz' para Portugal derrotar a Hungria por 3-0.
Estamos 'quase' no Mundial. Falta um 'danoninho'!

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Memórias: Dá-lhe que é da Calheta!

Desconheço a origem exacta da expressão mas, na minha infância, mais do agora, ouvi-a muitas vezes na Ribeira da Janela.
Talvez na sua origem estejam as ligações entre as populações da Calheta e da Ribeira da Janela feitas pelas serras do Fanal. Ligações comerciais e também de romarias.
E talvez seja nas romarias e nos arraias que se encontre a origem da expressão "dá-lhe que é da Calheta!". É que a rapaziada da Calheta vinha à freguesia namoriscar as moçoilas e era frequente, nos arraiais, haver zaragata por causa delas.
O "dá-lhe que é da Calheta!" pode ter aqui a sua explicação.
Se conhecem outra digam-me!
Depois passou a ser empregue para incentivar alguém a 'dar porrada' seja no sentido literal seja no sentido figurado (verbal).

terça-feira, 6 de outubro de 2009

O jovem maestro da Orquestra Clássica da Madeira (OCM), Rui Massena, ficou indignado com o Casino da Madeira, responsável pela gestão do Centro de Congressos onde a OCM costuma apresentar os seus concertos.
Qual o motivo da indignação?
Diz que no dia 1 de Outubro, Dia Mundial da Música, chegou ao Centro de Congressos e deparou com uma faixa publicitária da comédia 'I Love My Penis' (protagonizada por dois actores, Almeno Gonçalves, que interpreta o papel de 'André' na telenovela 'Flor do Mar', e António Melo, conhecido da série 'Os Malucos do Riso').
Massena indignou-se porque lona de publicidade com que a Orquestra divulga as suas actividades do trimestre foi abafada pela lona com a divulgação de uma peça de teatro para 17 de Outubro, com o sugestivo título de 'I Love My Penis'".
Comentários:
De mau gosto ou não, todas as artes têm direito a existir.
O que me preocupa é que a 'rebeldia' do jovem maestro parta de uma premissa errada: Dá a ideia que o Casino é o quintal da OCM e do Massena.
E como não tenho fraca memória, lembro-me do caso em que o maestro 'bateu o pé' e não deixou os professores efectuarem o seu congresso na sala do Centro de Congressos do Casino.
Respeito muito o maestro Massena mas dá a ideia que tem atitudes de menino mimado a quem se tira um gelado ou um rebuçado...

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Memórias: Lapiseiras BIC

Era a lapiseira mais barata e a mais usada na minha infância. Povoa o meu imaginário de então: A BIC toda 'ratada' por nervos à flor da pele, dentes de puberdade ou puro prazer de roer a ponta. Havia a BIC azul, a verde, a vermelha, a preta e... para os mais abonados, a laranja. Umas para escrever, outras para sublinhar o sumário.
Acontece que ficavam-se as BIC's e iam as tampas. Nem sempre se guardava a caneta BIC com a ponta para baixo. Resultado: as manchas nos estojos e na pasta eram frequentes. E dava azar lavar a pasta ou o estojo. Ainda se corria o risco de perder o ano.Ficam essas perguntas intrigantes: Por que razão existe um buraco no corpo das canetas BIC?
Agora sei que é para uniformizar a pressão dentro da caneta com a pressão fora dela. Essas aberturas, ou buracos no corpo lateral das canetas, basicamente ajudam a prevenir vazamentos de tinta. Aproximadamente 90% de todas as canetas tem essas aberturas para evitar vazamentos. O que nem sempre acontecia.
E porque razão, a 'tampinha' que encimava a caneta (era das primeiras a desaparecer às mãos de reguilhas) tinha também um buraquinho? Agora sei que era para evitar que alguém sufocasse caso a engolisse. O que não sabia e agora sei é que uma esferográfica BIC escreve entre 2 e 3 kilómetros. Que a BIC é uma empresa francesa com sede em Clichy.
Fundada em 1945, a fábrica é conhecida por fabricar produtos descartáveis de baixo custo. Diria que é a 'low-cost' das lapiseiras. E que há muitas referências às BIC. Até mete extra-terrestres. E quem leu o livro 'O Código Da Vinci', de Dan Brown, encontrou referências sobre as canetas BIC. Até Bill Gates, antes de criar o 'Windows', só assinava documentos com uma caneta BIC.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Memórias: 'Palha-de-aço' e 'Sal azedo'



Nas mercearias não havia a actual esponja que combina com o esfregão verde. Havia 'Palha-de-aço'. Aos rolos, a 'Palha-de-aço' era vendida aos fregueses aos 'bocadinhos'.
A 'Palha-de-aço' ou 'Lá-de-aço' dava para quase tudo. Para a loiça, para as panelas ferrugentas, para limpar soalhos. Dava para esfregar o soalho apenas com água e sabão ou, para quem o tivesse, com aguarrás de limpeza, para as intervenções mais profundas.
Nas casas de banho e juntas de azulejos dava um jeitão. Era o ideal para limpar bicos de fogão. Os bicos eram colocados num recipiente com água e vinagre, deixando actuar durante aproximadamente uma hora. Para terminar esfregava-se com 'Palha-de-aço' para remover a sujidade.
Actualmente, a 'Palha-de-aço' é mais usada na construção civil/carpintaria do que nos usos
domésticos.
Fica a memória!
E por falar em limpezas, ainda sou tempo em que os terreiros das casas, pelo menos uma vez por ano (quase sempre coincidindo com o Natal), eram limpos com 'Sal azedo' diluído em água. Um produto corrosivo (ácido oxálico) que dava cabo do mais entranhado e encardido terreiro. O lodo/bolor não lhe resistia.
Hoje o 'Sal azedo' é mais usado na marinha de recreio para branquear os cascos das embarcações.
Fica também a memória!

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

O Pravda anónimo...

Agradeço a simpatia do 'Pravda Ilhéu' em referir-se a este blogue.
O 'madeira4evernews' sei que é da minha autoria (dou o nome e a cara), o 'Pravda Ilhéu' não sei de quem é.
E se escrevo 'coisas culturais' é porque me apetece e não será ninguém de fora a ditar o conteúdo do que aqui se escreve.
Quanto a 'coisas contra o regime' não é por medo da Justiça (porque já conheço a sensação de me sentar no banco dos réus) mas por entender que o blogue tem outra finalidade que não a maledicência, a boataria, que não substituir-se ao papel e às regras da comunicação social.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Vigens à borla é em Lisboa

Por cá, os 'Horários do Funchal' (HF) desdobram-se nisto e naquilo, com tímidas investidas para comemorar a Semana da Mobilidade. Em Lisboa e no Porto, durante o dia de hoje (terça-feira, 22 de Setembro), há viagens nos transportes públicos à borla.
As viagens nos transportes públicos suburbanos são gratuitas, numa iniciativa que assinala o último dia da Semana Europeia da Mobilidade.
As viagens nos transportes da CP e do Metro nas duas maiores cidades do país são gratuitas, segundo uma nota de imprensa do Ministério das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, enviada a 15 de Setembro, no início da Semana da Mobilidade.
Aliás, 15 de Setembro foi também dia de borlas em Lisboa. A Transtejo, a Soflusa e a Carris aderiram à iniciativa.

Memórias: Fisgas

A fisga era um dos brinquedos mais populares entre os rapazes do meu tempo de criança. Pela sua natureza, a fisga é um objecto que permite projectar pequenas pedras a média distância, com algum grau de precisão, dependendo da destreza do atirador.
A fisga era um óptimo complemento das aventuras e brincadeiras de criança. A aventura começava logo na construção da 'arma'. Uma forquilha toda polida, um pedaço de cabedal para servir de suporte à pedrinha/munição (geralmente recortado de uma bota ou sapato velhos), tiras de visgo (borracha) -retiradas de câmaras de ar de pneus-, arame fininho.
Eram estes os componentes essenciais. O mais estava ao critério do artista. Até havia uns que cobriam as hastes da forquilha de visgo.A fisga acompanhava sempre a rapaziada. Ia no bolso de trás até para a escola.
Era usada, quase sempre para atirar contra os pássaros, de modo especial os melros pretos. Metia brincadeiras que implicavam destreza, como atirar contra alvos feitos por latas ou garrafas
de vidro.Menos recomendável era o seu uso para partir vidros e lâmpadas da iluminação pública e danificar a fruta nos pomares dos vizinhos. Também pouco recomendável era o seu uso nas "guerras" da pequenada, quais cowboys de fisga em riste.
Como munições eram necessárias as indispensáveis pedrinhas, de preferência do tamanho de uma cereja, ou até mais pequenas, quanto mais regulares melhor, pois eram as que garantiam um tiro mais certeiro. Um bom atirador de fisga andava sempre com os bolsos cheios de pedras.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Memórias: Fontanários

Antes de haver um sistema de fornecimento de água canalizada, as nascentes, fontes, fontanários e chafarizes tinham um papel fundamental. É uma pena que alguns desses pontos estejam abandonados.
Como resultado do abastecimento de água potável ao domicílio, os fontanários passaram 'à história', caíram em ruínas ou cobriram-se de mato. Não havia sítio na Ribeira da Janela que não tivesse um. Lembro-me de um perto da casa da 'menina dona', nos Casais de Baixo. Para passar a estrada foi desmantelado com a promessa que iria ser reconstruído noutro local... até hoje.
Lembro-me de outro, também nos Casais de Baixo, perto da casa da 'Jenuairinha', abandonado há anos e substituído por outro a não mais de 20 metros de distância dali.
Os fontanários estavam para as gentes do campo como os pelourinhos para as vilas e cidades.
Por altura do São João, a alegria e o convívio entre as pessoas levava-as a enfeitar os fontanários, numa rivalidade saudável entre sítios.Havia fontanários muito bem construídos, com pormenores arquitectónicos deliciosos. Alguns com azulejaria da mais rica para a época.
A ADRAMA, através do programa 'Leader', tem financiado -e bem- a recuperação de alguns fontanários, por toda a ilha e também no Porto Moniz. Mas o esforço tem de continuar. O património agradece. Como se agradecem outros contributos para a valorização do património edificado da Ribeira da Janela.
Lembro que o PDM do Porto Moniz, publicado em Abril de 2004, classifica como "Imóveis de interesse público e valor local", Valores que se propõe para futura classificação na freguesia da Ribeira da Janela as seguintes construções:
a) Ponte da Ribeira; b) Igreja da Ribeira da Janela; c) Casa do Dr. Jardim, nos Casais da Igreja; d) Casa da Sr.a Maria Helena, nos Casais de Cima; e) Til centenário (árvore) nos Casais de Cima; f) Levada dos Cedros, na serra do Fanal; g) Antigo caminho municipal —Ponte da Ribeira-Fanal; h) Caminho antigo da ribeira Funda passando pela Passada.
MÃOS À OBRA!

sábado, 19 de setembro de 2009

Memórias: Poços de lavar (comunitários)

Ainda existem alguns na minha freguesia e nas demais freguesias da Madeira. Infelizmente abandonados ou aos quais se deu outro fim. Uns cuja arquitectura foi adulterada e outros pura e simplesmente demolidos para, no seu lugar, serem erguidas
novas edificações -dizem- em prol da comunidade!!!.Os poços de lavar roupa comunitários povoam a minha memória de infância. Um deles ficava bem perto da minha escola primária, nos Casais de Cima. Lembro-me de outro no Ribeiro Escuro, há muito desactivado.
Hoje estão sem uso. Uns invadidos por mato. Outros para quem o anil, o pau de sabão azul e a roupa a coarar nas imediações não passa de uma memória.Meus senhores, urge recuperar fontanários (sofre estes debruçar-me-ei noutra oportunidade) e poços de lavar comunitários.
Uma luta em nome da memória colectiva pois há quem defenda que eles devem ser transformados noutras coisas como armazéns de apoio às juntas de freguesia. Neste momento, podem não ser utilizados mas pode chegar o tempo em que alguém os utilize,
pelo que devem continuar a ser de livre acesso e abertos ao público.Vejam esta passagem do romance de Concha Rousia, 'As sete fontes': "...eles nunca se contentam, parece que não lhes chega nada. Arranjei­-lhe os poços de lavar, onde havia um velho de pedra, no seu lugar fiz três novos com cimento, um para beber o gado e outro para lavar, e o outro para …, três, para que não se queixem, e tampouco gostaram deles...".
O 'Manual de história da Madeira' também a eles faz referência nestes termos: ..."O final do Séc. XIX trouxe outras preocupações sociais que conduziram a uma aposta na canalização de águas, construção de fontanários e poços de lavar"...
A mensagem que deixo é a seguinte: Contrarie a seguinte trova de são João: "Andam a restaurar poços de lavar que ninguém vai usar, mas de um rego de regadio que muita falta faz, disso ninguém quer falar".
Diga antes: Ainda bem que andam a restaurar!

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Memórias: O chofer e o cigarilha

Na minha terra cigarrilha significa ajudante de chofer de camiões e não tem qualquer conotação com o tabaco. O cigarrilha (creio que é assim que se escreve e não sigarrilha ou cigarrila ou sigarrila) era o braço direito do motorista, o ajudante do camionista. Removia as pedras da estrada, acondicionava a carga, orientava a carga e a descarga. Sobretudo no transporte de urze e feiteira da serra.
Mas qual a lógica de chamar cigarrilha a um ajudante de motorista?
Se a expressão 'chofer' deriva do francês 'chauffeur' e significa motorista, condutor, já a palavra 'cigarrilha' não sei de onde deriva. Sei que a um chofer pode estar associado um cigarrilha, mormente quando se tratam de veículos pesados de transporte de mercadorias (camiões).
Sei que o significado que aprendi desde pequeno para cigarrilha não é o mesmo que vem nos dicionários e apontam para um objecto (versão mais curta e estreita do charuto). O cigarrilha quase que fazia parte da bagagem e ninguém podia contratar um sem o outro. Era a companhia do chofer nas viagens para qualquer eventualidade. Nem que fosse só para fazer companhia e não deixar o motorista adormecer ao volante.
Mas ele tinha outras tarefas: ajudava a acondiconar a carga para que o camião não virasse, amarrava as cordas com os laços e nos pontos certos e cobria a carga de lona grossa, se fosse caso disso. Era também ele que tirava as pedras que se entalavam entre pneus, que providenciava para que o chassis aguentasse, que deitava o combustível tirado de bidões de 200 litros porque, na serra, não havia bombas de gasolina por perto. E que varria a carroçaria no final de cada viagem.
O ciclo repetia-se.
Muitas vezes viajava de costas na carroçaria do camião para que a cabina fosse ocupada pela família de quem contratou a viagem. Nada que não estivesse habituado, calejado já pela poeira, pelo vento e pelas chuvas que tisnam a pele.
A minha homenagem a eles!!

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Berardo e Jardim em sintonia

Depois de Jardim ter dito 'Fuck them', Joe Berardo comprou... um vibrador. Ou melhor, a peça de design impedida de participar numa exposição por incluir um vibrador.
O empresário e coleccionador madeirense Joe Berardo adquiriu a obra de arte contemporanea a Catarina Pestana, designer de comunicação e autora da obra.
E vejam a coincidencia... a obra chama-se "Light My Fire (Acende o meu Fogo)".
A peça encontra-se guardada desde a passada semana no Museu do Design e da Moda (MUDE), localizado na Baixa de Lisboa, para onde foi transportada depois de ter sido rejeitada numa exposição da Bienal ExperimentaDesign, para a qual tinha sido criada.
"Light My Fire (Acende o meu Fogo)" é composta por um manequim feminino dourado com um vibrador colocado entre as pernas, envergando luvas de boxe, e rodeado de máquinas fotográficas, bips e CDs. O manequim enverga uma t-shirt com a frase "Coca Cola Light Gosta de Mim".
De acordo com a designer de comunicação, a marca patrocinadora recusou "Light My Fire" por conter um objecto de cariz sexual/erótico, alegando que ia contra os códigos de conduta da empresa.
Por seu turno, a organização da ExperimentaDesign justificou na altura, numa declaração, que não correspondia aos parâmetros pedidos.
Certo ]e que 'Light My Fire' encaixa que nem uma luva [de boxe] no 'Fuck them'.

Memórias: Pau-branco para fusos

Tem o nome vulgar de pau-branco. O nome científico é 'Picconia excelsa' (Aiton). É uma árvore da família das 'Oleaceae'. Trata-se de uma espécie endémica da Macaronésia. Ocorre na Laurissilva madeirense na região central e a norte da Madeira, muitas vezes em ravinas e escarpas. Exemplares de pau-branco podem ser observados nas zonas mais recônditas da Ribeira da Janela onde bravos homens o iam buscar para fazer fusos.
O pau-branco chega a atingir 15 metros de altura, possui casca pálida e posição das folhas, caracteristicamente, oposta e alternada aos pares.
É uma espécie pouco abundante, ao abrigo dos estatutos atribuídos à floresta Laurissilva.
A sua madeira é extremamente rija e foi em tempos utilizada na construção de fusos de lagar.
Pau-branco é hoje nome de casa de turismo rural, no Porto Moniz.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Memórias: Pau-de-buxo



Hoje é pouco utilizado. Outrora, o arbusto era esventrado, sobretudo na Páscoa, para fazer piões. O pau de buxo é uma madeira dura. Boa para travincas ou chavelhas. Óptima para piões prontos a levar "ferroadas".
Com uma navalha faziam-se piões à nossa maneira. Alguns toscos outros mais torneados. Com jeitinho, o mestre Martinho, na Voltinha, até deixava usar o torno mecânico, para o tornear a jeito. E era o que calhava...pau de buxo era o ideal mas também o de laranjeira.
A pequenada entretinha-se a desbastar com um canivete o pau de buxo, até obter o pião ideal. Os artesãos, esses usam o pau de buxo para fazer colheres de pau que seriam usadas durante várias gerações para mexer e provar o tempero da comida. Com jeitinho, e se o pedaço de madeira desse, ainda se arranjava tempo para fazer umas “pucarinhas” em pau de buxo.
Os ramos mais esguios e direitos, cascados e polidos pelo o uso serviram de bengala a tanta gente. Até há quem faça flautas e clarinetes de pau de buxo mas isso era arte para outras mãos que não as da pequenada.
O buxo é uma árvore que se mantém sempre verde, e cuja madeira é muito dura. Pertence à família das Celastrináceas. As suas flores são verdes e as folhas lustrosas.
Os católicos utilizam os galhos dessa planta nas procissões do Domingo de Ramos.
A madeira é ainda empregue no fabrico de bolas de bilhar e de objectos de uso doméstico.
O buxo é uma planta utilizada muito em jardinagem para a construção de sebes porque suporta as podas e não perde a folhagem de inverno.
O buxo já foi utilizado em medicina popular como antipirético, mas esse uso é arriscado porque é uma planta altamente venenosa devido à presença de certos alcalóides.
Sob o ponto de vista humano, a sua principal utilização é como planta ornamental.

Memórias: Uveira-da-serra





A uveira-da-serra (Vaccinium padifolium) é um arbusto da família dasEricácias, que integra as associações arbustivas do último andarfitoclimático da Ilha da Madeira.
Para além de ser uma pioneira extraordinária no processo de recuperação da formação vegetal primitiva da cordilheira central, auveira-da-serra produz, em abundância, bagas ricas em vitamina A, compropriedades adstringentes, anti-inflamatórias e antioxidantes.
Estes "mirtilos" exclusivos da Madeira são bastante agradáveisquando consumidos frescos e produzem uma excelente compota, que, segundo atradição popular, deve ser usada contra a tosse e a gripe.
A população da Ribeira da Janela sabe que é possível conciliar de forma harmoniosa a conservação da Natureza com a apropriação dos seus recursos.
Desde pequeno aprendi a colher as bagas sem danificar as plantas, lavar os frutos para retirar impurezas e observar a cozedura e o processo de feitura da compota. A compota faz-se adicionado açúcar na proporção de um quilo de baga para meio quilo de açúcar.
Posso dizer-vos que os que nunca comeram "doce de uva-da-serra" ficarão surpreendidos com a
qualidade deste produto genuinamente madeirense.

nota: imagens da Associação dos Amigos do Parque Ecológico do Funchal.