quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Memórias: Roçadeira e outras alfaias agrícolas

Numa mão uma vara ou uma forquilha para amainar o silvado e noutra a roçadeira. Era assim que o homem do campo (o que dá 'dias fora' e faz os trabalhos mais fragosos) enfrentava a árdua tarefa de limpar os terrenos invadidos por silvado e deixá-los prontos para o cultivo.
A roçadeira artesanal (espécie de vara comprida com uma podôa ou foice na ponta -hoje há roçadeiras mecânicas) era e é um instrumento essencial das alfaias agrícolas. Na Ribeira da Janela há um sítio que perpetua esse nome: Roçada.
As minhas memórias de infância estão povoadas de imagens de ruralidade. Mais nos outros do que em mim. De foices ao ombro, molhos de erva ou de couves às costas ou à cabeça (mulheres), de sacas de cernelha, de bordões ou forquilhas, de gigas, de espantalhos deixados no campo para as aves não comerem as sementes acabadas de atirar à terra, dos 'molhinhos' de cebolinho ou de 'coivinha' que seriam 'dispostos' na terra para virar cebolas.
Dos 'molhos' de rama das Contreiras que, algumas vezes comprados, prenchiam tornas e regos de batata doce, de laços de coelhos à entrada das tocas, da colheita de espadanas para, uma vez semi-secas, virarem amarras para 'abaixar' a vinha, das enxertias e da construção de 'amparos' e de paredes de empreitada, das tosquias no Fanal ou no Curral Falso.
Das varas de lagar e dos fusos arrancados à serra, das caixas de verdelho que o Estaleiro produziu e que, a custo, passava por trilhos e veredas inimagináveis, do adubo e dos 'ingassos' (parra que restava depois de feito o vinho) levados às costas ou em cestos para adubar a terra, das 'ameixas' para preparar as pipas e cuja combustão nos fazia tossir....
Enfim... das cunhas de rachar lenha ou de outras mais maneiras para 'prender' cabos de ferramentas agrícolas (enxadas, podôas, foice, machados). Dos podões e da ráfia. Dos foles ou enxofradeiras (às vezes saquinhos de enxofre) para deitar nos rebentos da vinha. Enxofre que nos fazia verter lágrimas, da palha lançada ao rego, da debulha nas eiras...

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