segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Memórias de infância: O balaio

Não havia casa que não tivesse pelo menos um. O balaio era de uma utilidade tremenda. Tanto dava para dependurar na loja com frutas, cebolas ou ovos como para levar à "venda" ou ao campo com semilhas murchas para os "homens de fora".
O balaio genuíno, de cana vieira, era usado até ao limite. Ou seja, até começar a desfazer-se. E mesmo nessas condições, já com buracos e canas partidas, tinha sempre uma utilidade, nem que fosse para que uma palheira chocasse pintos ou para aquecê-los à lâmpada.
Ao contrário de outras paragens, onde o balaio é redondo e usado como arte de pesca, o balaio genuíno madeirense tem a forma oval ou semi-rectagular. Também serve para por roupas sujas ou colocar outros produtos hortícolas.
Por cá não houve nenhuma 'guerra da balaiada' (como no Brasil) mas o balaio marcou uma época. Não havia casa de cestaria no Funchal que não tivesse balaios dependurados para venda.
O “balaio” é um cesto de palhinhas/canas rachadas entrelaçadas. Era muito usado por ser mais leve e mais barato do que o cesto de vimes.
O balaio deu, depois, nome a dança gaúcha, sobretudo replicada no Brasil. E a uma canção popular brasileira (Eu queria ser balaio/balaio eu queria sê,/para andar dependurado/na cintura de você. Eu queria ser balaio/na colheita da mandioca/para andar dependurado/na cintura das chinocas./Mandei fazer um balaio/Pra guardar meu algodão,/balaio saiu pequeno/Não quero balaio não. Refrão:Balaio, meu bem, balaio,/sinhá,/balaio do coração./Moça que não tem balaio,/sinhá,/bota a costura no chão.)
Deu também origem à expressão "c'o balaio" (Expressão de admiração por algo de grande). Também se pode usar, em vez da expressão "saco de gatos", "balaio de gatos".
Também se faziam, embora menos duradouros e em menor número, balaios com outros produtos palhosos como fetos, juncos ou espadanas. Fibras vegetais resistentes onde também se incluia a cana bambu (embora mais rara na ilha).
Hoje a função do balaio é predominantemente decorativa.

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