terça-feira, 17 de maio de 2011

O primeiro e o actual ou a diferença entre a I e a III República

O primeiro era oriundo de famílias aristocráticas e descendente de flamengos. O pai deixou de lhe pagar os estudos e deserdou-o. Trabalhou, dando lições de inglês para poder continuar o curso.Formou-se em Direito.

Foi advogado, professor, escritor, político e deputado. Foi também vereador da Câmara Municipal de Lisboa. Foi reitor da Universidade de Coimbra. Foi Procurador-Geral da República.Passou cinquenta anos da sua vida a defender uma sociedade mais justa.

Com 71 anos foi eleito Presidente da República.Disse na tomada de posse: "Estou aqui para servir o país.. Seria incapaz de alguma vez me servir dele..."Recusou viver no Palácio de Belém, tendo escolhido uma modesta casa anexa a este. Pagou a renda da residência oficial e todo o mobiliário do seu bolso.Recusou ajudas de custo, prescindiu do dinheiro para transportes, não quis secretário, nem protocolo e nem sequer Conselho de Estado. Foi aconselhado a comprar um automóvel para as deslocações, mas fez questão de o pagar também do seu bolso.

Este SENHOR era Manuel de Arriaga e foi o primeiro Presidente da República Portuguesa.


O segundo foi o homem que escreveu no 'Expresso' uns artigos sob o título 'O Monstro' que, segundo o próprio, alertavam para o risco de Portugal chegar à situação em que estamos. O homem que, na última vez em que o FMI esteve em Portugal, em 1983 fazia a rodagem do carro para a Figueira da Foz. Numa altura em que a causa remota da vinda do FMI foi a decisão de revalorizar o escudo. O homem que sucedeu ao governo do bloco central, governando em tempo de falsas vacas gordas, à custa da adesão à CEE, do reequilíbrio das contas externas e da imensidão dos fundos comunitários.

Quando já era primeiro-ministro, ao longo do seu consulado, definharam os sectores produtivos, sobretudo o agrícola, soçobrando face à competitividade da agricultura europeia à custa de "envenenadas" indemnizações compensatórias. Ele é o pai da economia liberal, dos negócios especulativos de acções cujo exponente máximo é o 'caso BPN', de inaugurações faustosas de obras públicas em vésperas de eleições. Com ele começou a invasão do Estado por milhares de boys, o criador do país das oportunidades/oportunistas.

Ele é o pai do triste episódio do assessor que inventou escutas numa página triste na história da instituição Presidência da República.Ele é inatacável e intocável. O acima de toda a crítica. O que defende o PEC ...para os outros. O que se queixou que a esposa ganha 800 euros de reforma. O mesmo homem do leme que, quando confrontado pelo facto de umas acções do grupo BPN/SLN que havia adquirido haverem valorizado cerca de 150% respondeu qualquer coisa do género 'Nessa altura não desempenhava quaisquer funções públicas'. O mesmo que amparou, noutras funções, o assessor das escutas. Os seus não são afastados. Quando muito, caem de maduros.

Lembram-se da sisa de Cadilhe (finais da década de 80)? Ele defendeu-o. Do sangue de Leonor Beleza (1985/86), defendeu-a até ao fim.Do recente escândalo BPN quando já era insustentável a presença do conselheiro Dias Loureiro no Conselho de Estado. Amparou-o até ao limite.Lembram-se quando atacou o Governo do seu próprio partido, encabeçado por Santana Lopes, com a história da boa e má moeda, favorecendo, assim, o PS de José Sócrates (2004).

Recordam-se, quando, na sequência destes ataques (feitos em 2004) Alberto João Jardim se referiu a ele como "sr.Silva"? Logo a seguir, como candidato a Belém, veio à Madeira (2005) beijar a mão que o atacou, pois precisava do voto dos madeirenses, não fosse o Diabo tecê-las, não ganhar à primeira volta e suceder-lhe o mesmo que a Freitas do Amaral em 1986? E por falar em Freitas do Amaral?

Lembram-se de Aníbal o ter apoiado em 1985/86 e depois se ter recusado a pagar a parte que cabia ao PSD (por ele liderado) nas dívidas de campanha, que depois o candidato pagou, com pareceres que foi elaborando ao longo dos anos seguintes?

Esse senhor é Aníbal Cavaco Silva. Esse homem político que tenta passar a mensagem que não é político mas foi o cidadão que mais tempo ocupou o cargo de primeiro-ministro (1985-2005). Depois de ter sido Ministro das Finanças (1979/80). E agora presidente na III República.

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