segunda-feira, 23 de março de 2009

Memórias de infância: A ponte e 'O Fuso'






Foi a 9 de Maio de 1957 que a (nova) ponte da Ribeira da Janela foi inaugurada. Nessa altura ainda não era vivo mas tive a curiosidade de ler a imprensa da época. Até porque passeis alguns anos da minha infância a cruzar a ponte na companhia do meu pai, fruto das ligações deste à EEM e, como sabemos, na foz da Ribeira há a Central Hidroeléctrica onde recorrentemente ia. Ali perto, na margem esquerda da ribeira, à entrada/saída da ponte, funcionou durante largos anos o bar “O fuso”.
Mas foi a 10 de Maio de 1957 que o DIÁRIO relatava que a ponte tinha sido inaugurada pelo general Luís de Sousa Macedo (Mesquitela), presidente da Junta Autónoma de Estradas, em representação do Ministro das Obras Públicas de então, Arantes de Oliveira.
No final da cerimónia foi oferecido um almoço “íntimo” na casa do presidente da Câmara do Porto Moniz, Américo Homem de Gouveia.
A ida para o Porto Moniz fez-se pela estrada dos Canhas, em 10 jeeps (“com certa precaução e perícia da parte dos experimentados motoristas”) e, nalgumas partes (Paul da Serra), em rede.
Após um rol de personalidades que estiveram presentes na cerimónia (entre elas o presidente da Junta Geral, o governador do Funchal, Comandante Camacho de Freitas, o Eng. António Camacho Teixeira de Sousa, o presidente da Câmara do Porto Moniz, Eng. Américo Homem de Gouveia, o arquitecto Chorão Ramalho e o Dr. Horácio Bento de Gouveia), o DIÁRIO diz que a inauguração foi assinalada com uma salva de morteiros.
Relata o DIÁRIO que “numerosas pessoas ali acorreram para assistir à cerimónia. O local encontrava-se engalanado com verduras e flores e embandeirado”. “Dando mostras do seus regozijo”.
O projecto da ponte é da autoria dos Engenheiros Teixeira de Sousa e Abel Rodrigues da Silva Vieira. “Trata-se de uma das obras de maior vulto levadas a efeito pela Junta Geral. O arco tem 35 metros de abertura, de fibra média parabólica e com a flecha de 5,5 metros. O comprimento total da obra, incluindo muros de avenida, é de aproximadamente 50,2 metros. A largura é de 6,20 metros entre fachos interiores das guardas, compreendendo uma faixa de rodagem de 5 metros e dois passeios de 0,60 metros. Adoptou-se para aquela obra o tipo de ponte de tímpanos varados, com duas abóbadas de aligeiramento dispostas simetricamente de três metros de abertura.
Toda a obra, excepto os passeios e as guardas foi construída de alvenaria aparelhada de basalto, com as juntas refechadas a argamassa hidráulica. O pavimento da fixa de rodagem foi feito de calçada de paralelepípedos com juntas tomadas a argamassa de cimento, assentes em leito de betão ordinário”.

Testemunho
A construção da ponte de pedra da Ribeira da Janela ficou concluída em 1956.
António dos Santos nasceu no ano da sua conclusão. O actual vereador da Câmara Municipal do Porto Moniz recorda algumas histórias desta ponte contadas pelos pais, avós e gente que contribuiu para esta construção com mais de 50 anos.
Segundo uma das histórias, pouco depois da colocação da 'pedra chave', assim denominada por tratar-se da última a ser colocada, a força da água arrastou os andaimes.
Na altura os trabalhadores terão equacionado um desfecho trágico tendo trabalho mais tempo para acelerar a conclusão da ponte.
“Ora no dia que puseram a 'pedra de fecho' a ribeira levou os andaimes mas a ponte não caiu, continuou como se vê ainda hoje”, conta António dos Santos. Entre os homens que construíram a ponte em arco contam-se alguns de fora da freguesia que acabaram por ficar terminados os trabalhos.
“Vieram partir e preparar a pedra e acabaram por ficar”, recorda o filho da terra. Entre o 'Mora em Casa', o 'Quinze', o João Mendes e o 'Baixinho' apenas um constituiu família na Ribeira da Janela, mas todos deram apoio à agricultura e à vida na freguesia.
“Essas pessoas não foram ricas nem deram grande património à freguesia, mas deixaram o seu legado”, considerou o autarca apontando para a importância de os recordar no dia em que se celebra mais um ano na vida da freguesia.

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