quarta-feira, 3 de junho de 2009

Memórias de infância: Rocheiros

Quem nasceu na costa norte da Madeira, como eu, sabe o quanto foram importantes os rocheiros, profissão agora quase extinta. Restam resquícios, ainda que incomparáveis, dessa profissão que são os amantes do canyoning, quais rocheiros dos tempos modernos (abro parênteses para felicitar o Clube Naval do Seixal e a Câmara do Porto Moniz pela iniciativa de realizar entre os dias 5 e 12 de Junho, no Seixal, o Meeting Canyoning Madeira/ II Encontro Nacional de Canyoning).
Eram eles (rocheiros) que procediam ao desmantelamento de blocos de rocha em zonas inacessíveis que ameaçavam populações. Foram eles que, amarrados em cordas, em laços que só eles sabiam dar, às vezes com métodos arcaicos e sem capacete, contribuíram para 'rasgar' trilhos em falésias intransponíveis.
Mais recentemente, foram usados para procederem à limpeza de taludes sobranceiros a estradas. Creio, se a memória não me atraiçoa, que a Direcção Regional de Estradas tinha nos seus quadros o lugar de 'rocheiro'.
Não me refiro a outras memórias... à dos pescadores de Machico, Caniçal e São Gonçalo, também chamados 'rocheiros', homens que iam às Selvagens e se dedicavam a capturar cagarras antes destas poderem voar, por vezes mil por dia, que depois de depenadas e salgadas eram vendidas no Funchal às classes mais desfavorecidas.
Não me refiro à localidade brasileira de Rocheiros, no município de Teotônio Vilela.
Falo dos rocheiros da costa norte da Madeira. Caíam a pique, falésia abaixo, na vertigem libertadora da obra feita.
E todos quantos observam ou estudam a mecânica das rochas insulares, em comparação com os mais aperfeiçoados processos da mecânica e engenharia moderna, não podem deixar de pasmar das obras realizadas, em grandeza e temeridade, por rocheiros madeirenses.
A minha homenagem a esses homens tenebrosos (lembro-me do António Santos, da Ribeira da Janela) que desafiavam as falésias até para outros feitos menos terrenos mas igualmente nobres que era a recolha do alegra-campo, nas falésias, para enfeitar as festas de Verão.

1 comentário:

Scherzan disse...

Julguei que já ninguém se lembrava deles. Lembro-me de trabalharem em Ponta Delgada. Juntamente com os levadeiros faziam a limpeza de levadas e desobstrução de veredas.
Depois haviam os tocadores de búzio que se ouviam ao longe sinalizando a vinda das águas por aí a abaixo.

Junto a minha homenagem à sua num reconhecimento pelo trabalho exemplar destas pessoas.