
Com efeito, os tradicionais palheiros pouco evoluíram desde os primórdios da colonização da ilha. Na Ribeira da Janela é raro ver-se um palheiro coberto de zinco como noutras paragens. Aqui, os mais genuínos têm rés-do-chão e sobrado. A cobertura é quase sempre de telha. As portas são exíguas (raras são as de duas meias portas).
O sobrado tem piso de tábuas de madeira rudimentares e uma abertura junto à manjedoura para deitar erva ao gado. O soalho deixa aberturas entre as tábuas para permitir a ventilação e no topo do telhado há quase sempre uma abertura para sair o ar. Até havia quem dormisse no 'quentinho' do sobrado (calor libertado, desde os rés-do-chão, pelo animal) em vez de dormir em casa. O sobrado é para guardar a feiteira e outras alfaias agrícolas (cordas, enxadas, etc.).
Existiam também alguns estábulos em furnas cavadas na rocha, mesmo à beira de precipícios e veredas. Quando o gado tinha de sair, para cópula com o garanhão ou mesmo definitivamente para abate, havia casos em que o animal e as pessoas que o seguravam abicavam-se.
Os palheiros hermeticamente fechados, escuros e acanhados existem. As aberturas (janelas) são mínimas até para evitar a entrada d indesejados mosquitos. Mas há outros 'modernos' onde a pedra solta das paredes deu lugar aos blocos. A
mangedoura tem um ou dois degraus para que o animal chegue à forragem, sobretudo quando o palheiro é limpo e o adubo retirado. Estrume, rico em azoto e potássio, que fica no logradouro até ser levado em sacas ou aos molhos para fertilizar a terra.
Nos palheiros tradicionais não há bebedouro. A água é dada ao animal manualmente, pelo produtor, numa vasilha ou balde, uma ou duas vezes ao dia, nas vezes em que, pacientemente, o dono vai ao palheiro dar de comer ao gado. Uma rotina que a malta nova já não tem paciência para cumprir.
O palheiro da Ribeira da Janela é único. Efectivamente, segundo Daniel Bravo, um inquérito levado a cabo no longínquo ano de 1948 revelou que existiam 19 formas diferentes de albergar o gado. Uns mais confortáveis do que outros para a ordenha das vacas, a gestação, a alimentação, a cama do gado (adubo), etc.
Porque, nalguns casos, os palheiros são de pequena dimensão, o agricultor tem a percepção empírica de que o gado precisa de espairecer. Daí que seja recorrente, de quando em vez, trazer o gado para fora do palheiro para pastar nas redondezas, num misto de estabulação/pastagem.
Os palheiros servem também para albergar o gado da serra, na temporada mais rigorosa de Inverno. As rezes mais pequenas encontram nele o conforto antes de rumar à serra.
Conclusão: Urge preservar os palheiros em nome do seu valor cultural, sentimental e paisagístico. Ainda que para outras funcionalidades.
nota: Para elaborara este 'post' socorri-me de Daniel Bravo da Mata (médico veterinário da ex-Direcção Regional de Pecuária) que chegou a propor um modelo arquitectónico de palheiro madeirense que proporcionasse mais conforto aos animais.