segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Memórias: Rosquilhas, cuscuz, torresmos e açorda

Da farinha de trigo nasciam as rosquilhas. As caseiras. Tendidas por mãos hábeis como as da minha avó ou por mãos de menino inexperiente como as minhas. Lá em casa, sobretudo pelo Natal, na amassadura havia sempre um tabuleiro de brindeiros e de rosquilhas tendidas pelos mais pequenos. A imaginação era o limite. Havia rosquilhas de formas bizarras, outras em forma de coração, outras de 'boneca'. O resultado era o mesmo: acabavam sempre por ser comidas.
Também povoa a minha memória de infância a preparação do cuscuz caseiro. Essas minúsculas bolinhas disformes de massa feitas à base de sêmola de trigo que acompanhava a Ceia de Natal. O cuscuz, hoje produzido de forma industrial, era alimento dos pobres. E que bom era à mesa em substituição do arroz que hoje domina.
Outra delícia culinária eram os torresmos. Não os secos que hoje se compram aos pacotes de supermercado mas os genuínos. Feitos de pele de porco com gordura e, aqui e ali, com pedacinhos de carne febra. Cortados em pequenos pedaços e fritos eram de morrer. Secos e estaladiços não eram de desperdiçar. Falo dos torresmos genuínos (o que restava da banha de porco).
Finalmente, lembro-me como hoje da açorda. Não da alentejana mas da madeirense. Do norte da Madeira. Era uma açorda simples como simples e pobres eram as mundividências. Levava água, segurelha, azeite (ou banha, ou margarina) e um ovo por cada cabeça da família. Depois era só deitar em sopas de pão duro ou semilhas cozidas que tinham ficado da véspera.

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