quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Memórias: Lendas e superstições (ditos populares)

Fazem parte do nosso imaginário colectivo. Algumas têm variantes/cambiantes, consoante a zona geográfica ou a situação/lição que se pretende transmitir.Da minha memória de infância, pelo que ouvia na Ribeira da Janela, retive algumas histórias que agora partilho convosco:
Cair azeite (na toalha ou no chão) ou ovos é sinal de azar. Derramar vinho ou açúcar dá sorte. Quem come pata ou pele de galinha fica bilhardeiro. Mexer o chá, na xícara, da direita para a esquerda, pode provocar brigas. Se duas mulheres servirem o chá do mesmo bule, uma delas terá um filho dentro de um ano. Um ovo de galinha muito pequeno é sinal de morte próxima.
Recolher os ovos de uma galinha e levá-los para dentro de casa, após o anoitecer, acarretará uma desgraça. Um ovo com duas gemas pressagia a morte de alguém muito próximo. Não se deve atirar ao fogo a casca de um ovo para que a galinha não deixe de pôr ovos. Não é bom augúrio uma galinha chocar um número ímpar de ovos, pois provavelmente gorarão.
O desperdício de pão é uma prática de mau agouro porque indica que quem o fizer passará fome. Comer laranja de manhã é ouro, de tarde é prata e à noite mata. Costurar roupa no corpo é de mau agouro porque só se costura a mortalha em defunto. Dá azar dormir com meias. Não se deve abrir guarda chuva dentro de casa. Dar um nó no lenço que se usa é excelente protecção contra o mal (havia quem usasse o dinheiro no interior do nó).
Não se deve tirar as teias de aranha de uma casa, pois tira-se a sorte também. Deve-se entrar numa casa com o pé direito para ter felicidade. No sábado de Aleluia é bom buscar água benta na
igreja, espalhá-la nos quatro cantos da casa para sair o azar da residência. É de mau agouro dormir com os pés voltados para a porta de entrada do quarto. Ninguém deve deitar-se sobre uma mesa, atrai a morte.
A mulher grávida não deve usar chaves, medalhas, colares no pescoço/colo, pois a criança sairá com marcas na pele. O umbigo do recém nascido deve ser queimado ou enterrado. O nome de um filho só deve ser escolhido após o nascimento. Comer castanhas cruas faz ganhar piolhos. Pisar cocó é sinal de dinheiro. Partir um espelho ou matar um gato dá 7 anos de azar. Passar por cima de uma criança faz com que ela não cresça mais, para crescer é preciso que aquela que passou por cima o faça outra vez, mas em sentido contrário. Mexer com lume faz xixi na cama.
Pedir três desejos quando se vê uma estrela cadente. Sol e chuva casamento de viúva, chuva e sol casamento de espanhol. Cruzar os dedos atrás das costas quando se diz uma mentira. Usar uma aliança para tirar o tresorelho. Passar uma cagarra ou uma coruja sobre uma casa à noite e a piar é presságio de morte nessa casa. Na quinta-feira santa não se deve lavar nem corar a roupa, porque pode aparecer no panal o retrato de Cristo feito em sangue.
O noivo nunca deve ver a noiva com o vestido de cerimónia antes do dia do casamento. Os noivos são felizes, se na boda chover. Não se deve varrer os sapatos ou pés dos jovens solteiros, pois é sinal que não casarão. Também não se deve varrer a casados porque podem ficar viúvos. Quando uma criança ri enquanto dorme é sinal que está a falar com os anjos. Quando uma criança definha e não come, diz-se que está aguada.
O sarampo ou saranpelo cura-se envolvendo a criança em roupas vermelhas e colocando no quarto tecidos e roupas da mesma cor. A papeira cura-se com uma fita envolta no queixo e cabeça. Uma mulher grávida não deve entrar no cemitério. Se não for satisfeito um desejo a uma mulher grávida o filho nasce com a boca aberta e o cabelo espetado.
As grávidas não devem pegar nos gatos porque as crianças nascerão com asma. Se a barriga da mulher ficar empinada é sinal que traz no ventre um rapaz; se crescer alargando as ancas, é rapariga. Para que os dentes cresçam bem, atiram-se quando de arrancam os 'de leite' (antes era com uma linha e uma porta) para a cinza ou para o telhado, dizendo: 'Dente dentinho, dente dentão vai-te para que nasça outro são'.
Desaparecem os soluços se se pegar um grande susto. Comer muito queijo tira a memória. Quando o pão cai no chão, deve ser beijado por quem o deixou cair, porque está lá Nosso Senhor (quando uma hóstia caía ao chão, antes havia um cerimonial para a recolher). Quando as andorinhas andam rasteiras é sinal de chuva. O número 3 dá sorte, três foi a conta que Deus fez.
Quem varre a casa à noite e deita fora o lixo, deita fora a fortuna. Achar um trevo de 4 folhas é sinal de sorte. A sementeira das batatas, a matança do porco e o corte das madeiras devem fazer-se no quarto-crescente da Lua. Duas pessoas que abrem a boca ao mesmo tempo hão-de ser compadres ou comadres. Não se deve desejar mal a ninguém, pois o próprio vem a caminho.
Quando duas pessoas bebem do mesmo copo, a que bebe em último lugar fica a saber os segredos da outra. Quem passar por debaixo do arco-íris muda de sexo. Depois da meia-noite é perigoso passar por um cruzamento: é lugar de encontro de bruxas e lobisomens (dizem que elas se encontram no chão do Paul da Serra). Quando se mata uma galinha e ela custa a morrer, é porque alguém está com pena dela (só quem não viu como se desnucam as aves!). Cura-se a dor de ouvidos com leite quente do peito da mulher que amamenta.
Finalmente, deixo aqui a explicação popular para as 'manchas' que, da terra, se vêem na Lua: 'Uma vez andava um homem a arrancar silvas ao Domingo. Veio Deus e disse-lhe que não arrancasse as silvas. O homem respondeu que ninguém o via fazer aquele trabalho. Deus disse: "pois deixa estar que te vou por num sítio onde toda a gente te há-de ver". E colocou o homem na Lua com o molho de silvas às costas. São dele as 'manchas' que se vêem na Lua'.

1 comentário:

Donato Macedo disse...

Excelente! Algumas desses "ditos populares" são-me familiares, mas não há dúvida que o Emanuel mostrou um imenso reportório.