sexta-feira, 8 de maio de 2009

Memórias de infância: A Ti Mariquinhas

Faço minhas as palavras escritas no DIÁRIO a 23 de Agosto de 2001, na então rubrica 'Ponto de Ordem', pela pena do jornalista Nicolas Fernandez:

"A Ti Maria

Escrevia eu contra a afirmação «nós os seguidores da Doutrina Social da Igreja...» feita no Dia da Cidade do Funchal, uma apropriação que continuo a achar indevida (como se, à semelhança do que querem impingir com a autonomia, o pensamento da Igreja tivesse dono) quando recebi a notícia da morte da minha tia-avó. E vi como às vezes andamos entretidos, passando ao lado do que verdadeiramente interessa.
Maria do Vale, a Ti Mariquinhas, completava em breve cento e um anos. Vai hoje a enterrar na Ribeira da Janela. Atravessou as agruras de um século, duas grandes guerras. Com a morte da cunhada, teve de cuidar de dez sobrinhos, o mais novo com apenas dois meses. Tinha sempre uma broa, uma fatia de bolo preto e um grande sorriso. Uma heroína sem nunca ter estado na ribalta.
E a Ti Mariquinhas é assim, mesmo depois de nos deixar, não deixa de nos questionar sobre o que fazemos, a quem damos voz, a quem servimos, a que jogos estamos submetidos, até que ponto não contribuímos para que a democracia não seja mais do que a expansão legal de uma qualquer tirania.
E à memória vem ainda a frase pouco batida, do também saudoso Victor Cunha Rego, «os órgãos de informação ou são embaixadores da condição humana ou nada são»".
NICOLAS FERNANDEZ

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